Embolia balística venosa retrógrada transtorácica
AUTORES
Alexandre de Tarso Machado, Tulio Pinho Navarro, Ricardo Jayme Procópio
Departamento de Cirurgia Vascular e Endovascular do Hospital das Clínicas da UFMG – MG
RELATO DE CASO
Homem, 30 anos, vítima de trauma por arma de fogo, com múltiplos disparos na região do tórax, admitido no Pronto Atendimento com instabilidade hemodinâmica. Após reposição volêmica, foi realizada tomografia de tórax que evidenciou projétil em ápice cardíaco (Figura 1), sendo indicado tratamento cirúrgico.
Foi submetido à toracotomia na qual foi possível localizar por palpação projétil dentro do ventrículo direito, mas sem evidências de lesões cardíacas. Após a palpação houve deslocamento acidental do projétil para veia cava inferior retro-hepática confirmada por RX de tórax (Figura 2). No dia seguinte o artefato tinha se deslocado novamente, dessa vez para a pelve (Figura 3).
- Nesse momento indicou-se a retirada do embolo por técnicas endovasculares. O procedimento pode ser resumido nas seguintes etapas:1) Flebografia pélvica: projétil alojado em veia ilíaca interna direita (Figura 4)
- 2) Captura do projétil com cateter tipo cesta (basket), que foi então tracionado até o local da punção (Figura 5)
- 3) Acesso cirúrgico aos vasos femorais (Figura 6)
- 4) Flebotomia transversa com retirada do projétil (Figuras 7 e 8).
DISCUSSÃO
Fenômeno de ocorrência rara mas, que deve ser considerado nos casos em que os pacientes apresentam orifício de entrada de arma de fogo sem orifício de saída correspondente e o projétil não é observado radiograficamente na localização esperada. Geralmente assintomático, mas quando presentes, os sintomas dependem da localização do êmbolo e da associação com complicações a ele relacionadas.
A migração depende de fatores como gravidade, tamanho e forma do corpo estranho e calibre dos vasos.
A embolização venosa retrógrada é bastante rara (0-7% dos casos) e seu tratamento é ainda controverso (conservador X cirúrgico). A abordagem endovascular tem se destacado como modalidade terapêutica para essa condição, sendo considerada como primeira opção de tratamento para êmbolos móveis, sendo a técnica mais freqüentemente utilizada, a remoção percutânea por cateteres do tipo cesta (basket)ou laço (snare).
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